segunda-feira, 14 de março de 2016

Peça de Lope de Vega: “La dama boba”

"La dama boba"


"La dama boba" dirigido por José Estruch em 1960

Personagens (11 atores e 4 atrizes + músicos):
Liseo e seu criado Turín
Leandro, um estudante
Octavio e seu amigo Miseno
Nise e sua criada Celia
Finea e sua criada Clara
Laurencio e seu criado Pedro
Duardo e Feniso, amigos de Laurencio
O professor alfabetizador Rufino
Professor de dança de Finea
Músicos

O poder do amor

O texto de “La dama boba” foi terminado em 28 de abril de 1613. Lope de Vega (1562-1635), na ocasião, com cinquenta anos de idade, já desfrutava de estabilidade financeira e profissional. Casado com Juana Guardo há quatorze anos, há oito pelo menos, o autor era muito amigo da atriz Jerónima de Burgos (1580-1641). Casada com o diretor Pedro de Valdés, ela havia sido madrinha de batismo de Lope Félix (1607-1634), o Lopito, filho do dramaturgo com a amante Micaela de Luján (1570-1614), também atriz. Ao longo dos primeiros anos do século XVII, a companhia de Pedro de Valdés encenou várias peças de Lope. A amizade entre o casal de encenadores e o escritor terminou por volta de 1615. Cartas que sobreviveram ao tempo revelam a mágoa que Lope sentia de Jerónima, que o difamava. Há quem diga que o personagem Gerarda, de “La Dorotea” (1632), foi baseado nela.

A peça “La dama boba” recebeu, em 30 de outubro de 1613, autorização para ser encenada de Tomás Gracián Dantisco, secretário de línguas (e censor) de Felipe III. A Companhia de Pedro de Valdés fez apresentações entre 1614 e 1615. Jerónima de Burgos, primeira atriz da Companhia, interpretou o papel de Nise, que não é a protagonista, porque essa deveria ser representada por uma atriz cômica. Segundo estudos do hispanista Hugo Albert Rennert, a atriz María de los Ángeles teria sido Finea, a personagem-título, por esse motivo. Para o mesmo pesquisador, os galãs foram interpretados por Ortiz de Villazán (Liseo) e Benito de Castro (Laurêncio) e o gracioso Turín pelo ator Baltasar de Carvajal.

Trata-se de uma típica “comédia de capa e espada” dentro dos subgêneros definidos por Marcelino Menéndez y Pelayo. Hoje em dia, “La dama boba” gera reflexões sobre a mulher na sociedade barroca dentre temas como: o valor da educação formal, a crítica à poesia conceptista (Francisco de Quevedo) e culteranista (Luis de Góngora), a manutenção e a defesa da honra.

A ação dura por volta de oito semanas. “La dama boba” começa com o galã Liseo e seu criado Turín em Illescas, município de Toledo, a caminho de Madrid. Cavaleiro culto e rico, Liseo foi prometido por sua família à Finea, levando a ela e à sua irmã alguns presentes. As duas são filhas de Octavio, na casa de quem eles ficarão hospedados até o casamento. O conflito inicial se estabelece quando o estudante Leandro cruza o caminho dos dois viajantes. Ele conhece a família da pretendente de Liseo e conta ao noivo o que lhe espera.

Leandro:
Que entrambas lo son;
pues Nise bella es la palma;
Finea un roble, sin alma
y discurso de razón.
Nise es mujer tan discreta,
sabia, gallarda, entendida,
cuanto Finea encogida,
boba, indigna y imperfeta.
Y aun pienso que oí tratar
que la casaban...

Segundo Leandro, no entanto, não é só a inteligência que diferencia as duas irmãs, mas também o dote. Antes de morrer, Fábio, irmão de Octavio, deixou a Finea uma herança de quarenta mil ducados, trinta a mais do que é o dote de Nise. No diálogo entre Octavio e Miseno, que sucede as cenas iniciais, isso fica ainda mais claro. A posição do pai é a de que não só pelo dinheiro será mais fácil casar Finea, mas porque as mulheres menos inteligentes são melhores esposas. Nas palavras de Octavio, fica claro seu pensamento sobre o assunto:

Si me casara agora (y no te espante
esta opinión, que alguno lo autoriza)--,
de dos extremos: boba o bachillera,
de la boba elección, sin duda, hiciera.
(...)
Eso es engano;
que yo no trato aquí de las discretas;
solo a las bachilleras desengaño.
De una casada son partes perfetas
virtud y honestidad. 
(...)
Está la discreción de una casada
en amar y servir a su marido;
en vivir recogida y recatada,
honesta en el hablar y en el vestido;
en ser de la familia respetada,
en retirar la vista y el oído,
en enseñar los hijos, cuidadosa;
preciada más de limpia que de hermosa.
¿Para qué quiero yo que, bachillera,
la que es propia mujer concetos diga?
Esto de Nise por casar me altera;
lo más, como lo menos, me fatiga;
Resuélvome en dos cosas que quisiera;
pues la virtud es bien que el medio siga
que Finea supiera más que sabe,
y Nise menos.

Na cena seguinte, surge Nise e sua criada Celia, que traz à ama o romance “História Etíope”, de Heliodoro (romancista grego que viveu entre os séculos III e IV). Exibindo sua Inteligência, Nise dá à criada aulas de literatura após essa ter confessado que se entedia ao ler prosas no lugar de poesias.

Nise:
Hay dos prosas diferentes
poética y historial
La historial, lisa y leal
cuenta verdades patentes
con frase y términos claros
la poética es hermosa
varia, culta, licenciosa
y escura aun a ingenios raros
Tiene mil exornacione
y retóricas figuras.

Como contraste, entram em cena Finea e seu professor Rufino. Em uma das cenas mais cômicas de “La dama boba”, ele tenta ensinar a aluna a ler, mas não consegue.

Finea:
¡Qué galanes
van todos estos detrás!

Rufino:
Estas son letras también.

Finea:
¿Tantas hay?

Rufino:
Veintitrés son.

Finea:
Ah[o]ra vaya de lición
que yo lo diré muy bien.

Rufino:
¿Qué es esta?

Finea:
¿Aquesta?... No sé.

Rufino:
¿Y esta?

Finea:
No sé qué responda.

Rufino:
¿Y esta?

Finea:
¿Cuál? ¿Esta redonda?
¡Letra!

Rufino:
¡Bien!

Finea:
Luego, ¿acerté?

Rufino:
¡Linda bestia!

A cena acaba com Finea apanhando do professor que vai embora enfurecido pela burrice da aluna. Nise consola a irmã, mas lhe diz que o professor tem licença para castigar a fim de fazer com que ela aprenda.

Clara, a criada de Finea, entra dando início a outro trecho destacável de “La dama boba”. Encantada, Clara narra a sua patroa (e amiga) o parto da gata La Romana, esposa do gato Hociquimocho, saudada pelos vizinhos felinos da bichana honrada. O diálogo entre as duas foi desenvolvido por Lope vinte anos depois, em 1634, quando o autor escreveu, sob o pseudônimo de Tomé de Burguillos, o poema “La Gatomaquia”.

Clara:
Escucha un momento:
Salía, por donde suele,
el Sol, muy galán y rico,
con la librea del rey
colorado y amarillo
andaban los carretone
quitándole el romadiz
que da la noche a Madrid;
aunque no sé quién me dij
que era la calle Mayo
el soldado más antiguo,
pues nunca el mayor de Flande
presentó tantos servicios;
pregonaban aguardente,
agua biznieta del vino,
los hombres Carnestolendas,
todos naranjas y gritos;
Dormían las rentas grandes,
despertaban los ofícios,
tocaban los boticários
sus almireces a pino,
cuando la gata de casa
comenzó, con mil suspiros,
a decir: «¡Ay, ay, ay, ay!
¡Que quiero parir, marido!
Levantóse Hociquimocho,
y fue corriendo a decirlo
a sus parientes y deudos;
que deben de ser moriscos,
porque el lenguaje que hablaban,
en tiple de monacillo,
si no es jerigonza entre ellos,
no es español, ni latino.
Vino una gata vïuda,
con blanco y negro vestid
-sospecho que era su aqüela--
gorda y compuesta de hocico;
y, si lo que arrastra, honra,
como dicen los antigos,
tan honrada es por la cola
como otros por sus ofícios.
Trújole cierta manteca,
desayunóse y previn
en qué recebir el parto.
Hubo temerarios gritos
no es burla; parió seis gatos
tan remendados y lindos,
que pudieran, a ser pías,
llevar el coche más rico
Regocijados bajaro
de los tejados vecinos
caballetes y terrados
todos los deudos y amigos:
Lamicola, Arañizaldo,
Marfuz, Marramao, Micilo,
Tumba[h]ollín, Mico, Miturrio.
Rabicorto, Zapaquildo
unos vestidos de pardo
otros de blanco vestidos,
y otros con forros de martas,
en cueras y capotillos.
De negro vino a la fiesta
el gallardo Golosino;
luto que mostraba entonce
de su padre el gaticidio.
Cuál la morcilla presenta,
cuál el pez, cuál el cabrito,
cuál el gorrïón astuto
cuál el simple Palomino.
Trazando quedan agora
para mejor regocijo
en el gatesco senado
correr gansos cinco a cinco.
Ven presto, que si los oyes,
dirás que parecen niños,
y darás a la parid
el parabién de los hijos.

Então, as duas saem correndo para ver a nova mamãe e seus filhotes agora descansando em um vão da casa. Em seus lugares, entram o poeta Duardo e os cavaleiros Feniso e Laurencio. Eles dizem que Nise foi eleita como juíza de um novo soneto que Duardo escreveu. Trata-se de uma crítica de Lope à poesia conceptista/culteranista: um poema difícil, árduo, sem sentido, que Nise não entende e não gosta. Constrangido, Duardo, que se compara a Platão, tenta explicá-lo, mas não se sai bem.

À parte, Nise diz a Laurencio que lhe dar um bilhete (o código da honra impede que ela o faça na frente de Duardo e de Feniso). Então, ele sugere que ela finja um desmaio. Ela o faz e, ao ajudá-la, pega de suas mãos discretamente a missiva. Quando Nise e Celia saem, Duardo e Feniso deixam Laurencio só, mas sem antes deixar claro que suspeitam que há algo entre Nise e seu amigo. Lope, que acabara de colocar na boca de Duardo um poema mal escrito, agora exibe talento através de Laurencio.

Laurencio:
Hermoso sois, sin duda, pensamento;
y, aunque honesto también, con ser hermoso,
si es calidad del bien ser provechoso,
una parte de tres que os falta siento.

Nise, con un divino entendimento,
os enriquece de un amor dichoso;
mas sois de dueño pobre, y es forzoso
que en la necesidad falte el contento.

Si el oro es blanco y centro del descanso,
y el descanso del gusto, yo os prometo
que tarda el navegar con viento manso.

Pensamiento, mudemos de sujeto;
si voy necio tras vos, y en ir me canso,
cuando vengáis tras mí, seréis discreto.

Quando entra Pedro (lacaio e amigo), Laurencio diz que há dúvida em seu coração entre Nise e sua irmã Finea sobretudo levando em consideração a diferença de dote que há entre elas. Exatamente como fez Turín a Liseo, Pedro não vê como possível um casamento com a boba Finea apesar do dinheiro envolvido na suposta união. De modo interessante, a ética divide criados e seus amos mesmo no teatro aparentemente conservador de Lope de Vega.

Na cena seguinte, entram Finea e Clara depois do encontro com os filhos recém nascidos de La Romana. Laurencio se aproxima de Finea e se diz apaixonado por ela e Lope repete um diálogo já visto em “Adonis y Venus”.

Finea:
¿Qué es amor?

Laurencio:
¿Amor? Deseo.

Finea:
¿De qué?

Laurencio:
De una cosa hermosa.

Assim como já se analisou em “¡Ay, verdades, que en amor...!”, senhor fala com senhora e criado com criada, mas Laurencio se espanta com a ignorância de Finea ao longo do diálogo, saindo de cena. Finea mostra para Clara um retrato de Liseo, seu noivo, no qual aparecem as pernas. Por causa disso, em mais um exemplo da burrice da protagonista, ela acredita que ele não poderá andar.

Entram Octavio e Nise e depois Liseo, Turín e outros criados. Vendo que ele é um homem completo, diferente do retrato, Finea abraça Liseo para espanto de todos que esperavam dela maior recato. Liseo conhece Nise e se apaixona por ela desde quando a vê. Octavio e as filhas se recolhem e Finea, mais uma vez, quebra o decoro, oferecendo sua cama para o descanso do noivo, o que pai rechaça obviamente porque eles ainda não são casados. Nesse momento, é como se o protagonismo de “La dama boba” recaísse sobre Liseo, cujo destino parece ser aterrador. O primeiro ato termina com ele percebendo que não poderá se casar com a boba.

Liseo:
Pues, ¿he de dejar la vida
por la muerte temerosa,
y por la noche enlutada
el sol que los cielos dora;
por los áspides las aves.
por las espinas las rosas
y por un demonio un ángel?
(...)
Desde aqui
renuncio la dama boba.

O segundo ato começa algum tempo depois em que Nise esteve adoentada sem receber qualquer sinal de Laurencio por quem ela julgava ser amada. Laurencio, por sua vez, segue tocado por Finea, mas com medo de sua ignorância célebre. Então, em uma conversa com seus amigos Feniso e Duardo, surge a tese que move toda a narrativa de “La dama boba”. 

Laurencio:
Amor dio lengua a las aves,
vistió la tierra de frutos,
y, como prados enjutos
rompió el mar con fuertes naves.
Amor enseñó a escribir
altos y dulces concetos,
como de su causa efetos,
Amor enseñó a vestir
al más rudo, al más grosero
de la elegancia fue Amor
el maestro; el inventor
fue de los versos primero;
la música se le debe
y la pintura. Pues, ¿quién
dejará de saber bien
como sus efetos pruebe?
No dudo de que a Finea,
como ella comience a amar,
la deje amor de enseñar,
por imposible que sea.

Ou seja, o amor pode tornar Finea uma mulher inteligente.

Nise e sua criada Celia surgem e, quando Feniso e Duardo se vão, ela cobra suas ausências. Ela percebe que está sendo preterida pela irmã e se enfurece, doente de amor. Liseo entra e vê o final da discussão entre eles e convoca Laurencio para um duelo.

Na cena seguinte, Finea está passando por novas dificuldades em aprender, mas agora com um professor de dança. Clara entra com o que sobrou do fogo de um bilhete a ela enviado por Laurencio. Sem saber ler, ela percebe pela primeira vez a importância da leitura. É seu pai que a ajuda a descobrir o que está escrito no papel. Temendo por sua honra, Octavio se preocupa ao saber que Finea também já abraçou Laurencio.

Finea:
Ayer, en la escalera, al primer paso,
me dio un abrazo.

Octavio (à parte):
¡En buenos pasos and
mi pobre honor, por una y otra banda!
La discreta, con necios en concetos,
y la boba, en amores con discretos.
A esta no hay llevarla por castigo,
y más que lo podrá entender su esposo).
Hija, sabed que estoy muy enojado.
No os dejéis abrazar. ¿Entendéis, hija?

Finea:
Sí, señor padre; y cierto que me pesa
aunque me pareció muy bien entonces.

Octavio:
Solo vuestro marido ha de ser digno
de esos abrazos.

Turín entra, contando sobre o duelo. Ele Octavio saem. O diálogo entre Finea e Clara deixa ver que o amor já fez modificações na boba.

Clara:
Parece que transformas
en outra.

Na seguinte, Liseo e Laurencio estão com espadas em punho e o segundo reclama das barreiras que ele encontra no seu amor por Finea. Então, Liseo confessa seu amor Nise e os dois fazem um acordo. Quando Octavio e Turín chegam, os dois cavaleiros estão conversando amigavelmente.

Em casa, Nise e Finea brigam por Laurencio. A primeira também nota que a irmã está mudada. A segunda abre mão de Laurencio em favor da irmã.

Nise:
Finea,
Déjame a Laurencio a mí
Marido tienes.

Finea:
Yo creo
que no riñamos las dos.

Nise:
Quédate com Dios.

Finea:
Adiós.

Quando Nise sai, Laurencio entra. A situação dele e de Finea é complicada, pois ele não pode, pelo código da honra, recusar Nise. Finea narra o diálogo que teve com a irmã e pede o abraço que ela lhe havia dado de volta. Os dois tornam a se abraçar e Nise volta, vendo os dois. Ela chama Laurencio para uma conversa particular.

Octavio entra e Finea conta que Laurencio lhe devolveu o abraço, deixando o pai ainda mais preocupado. Octavio sai em busca de Nise e Laurencio reaparece, dizendo que não foi ter com Nise em particular. Finea diz que é preciso desenamorar-se e Laurencio diz que só conhece um meio disso: cansando-se. Aqui há outro dos temas de “La dama boba”: o descompasso entre o amor e o casamento. Quando entram Pedro, Duardo e Feniso, Finea promete diante deles que irá se casar com Laurencio a fim de deixar de amá-lo.

Sozinho com as filhas, Octávio diz que é preciso casá-las logo e sai em busca de um escrivão, determinando que Laurencio não mais entre em sua casa.

Liseo aparece e confessa a Nise seu amor, mas ela o rechaça. Laurencio volta e promete ajudar Liseo a conquistar Nise. Assim termina o segundo ato.

Quando o terceiro ato começa, Finea é praticamente outra mulher. Em um solilóquio inicial, há o desenvolvimento de um raciocínio complexo em que ele expressa o que o amor fez com ela: ela se tornou inteligente. Clara diz que ouviu seu pai e o amigo dele conversarem sobre essa transformação: Finea já escreve e dança, é como se vivesse com outra alma no mesmo corpo. Mas eles atribuem esse amor a Liseo. Finea diz que o de Laurencio. “Gran fueza tiene el Amor, catedrático divino!”

Na conversa entre Octavio e Miseno, o pai fala sobre a transformação filha citando vários autores antigos e contemporâneos (século XVII), incluindo Lope de Vega. É Lope citando a si próprio.

Octavio:
Ayer sus librillos vi,
papeles y escritos vários;
pensé que devocionários,
y desta suerte leí:
Historia de dos amantes,
sacada de lengua griega;
Rimas, de Lope de Vega;
Galatea, de Cervantes;
el Camões de Lisboa,
Los pastores de Belén,
Comedias de don Guillé
de Castro, Liras de Ochoa;
Canción que Luis Vélez dijo
en la academia del duque
de Pastrana; Obras de Luque;
Cartas de don Juan de Arguijo;
Cien sonetos de Liñán,
Obras de Herrera el divino,
el libro del Peregrino,
y El pícaro, de Alemán.
Mas, ¿qué os canso? Por mi vida,
que se los quise quemar.

Nas cenas seguintes, há o contínuo rechaço de Nise a Liseo. E um pequeno baile em que as duas irmãs dançam enquanto os músicos cantam uma canção sobre as coisas que vêm do Panamá. Ao final, Octavio chama as filhas para comunicar-lhes que Nise se casará com Liseo e Finea com Duardo. A sós com seu lacaio Turín, Liseo diz que não quer se casar com Nise à força e que vai se vingar dela pelo modo como foi tratado, pedindo a Octavio novamente a mão de Finea. Turín, por sua vez, afirma que também está interessado em Celia, criada de Nise.

É Laurencio que conta para Finea que Liseo foi pedir a sua mão em retaliação pelo modo como foi tratado por sua irmã. E pede a ela que volte a parecer boba para que se encontre uma saída. Finea concorda, dizendo que as mulheres são boas em fingir porque fingem desde antes de nascer.

Laurencio:
¿Antes de nacer

Finea:
Yo pienso
que en tu vida lo has oído.
Escucha.

Laurencio:
Ya escucho atento.

Finea:
Cuando estamos en el vientre
de nuestras madres, hacemos
entender a nuestros padres,
para engañar sus deseos,
que somos hijos varones;
y así verás que, contentos,
acuden a sus antojos
con amores, con requiebros,
y esperando el mayorazgo,
tras tantos regalos hechos,
sale una hembra que corta
la esperanza del suceso.
Según esto, si pensaron
que era varón, y hembra vieron,
antes de nacer fingimos.

Laurencio e Pedro se escondem quando Liseo e Turín reaparecem. Quando Liseo diz que Octavio casou Nise com Duardo, Finea responde que não acredita porque sua irmã havia contado a ela que já estava casada em segredo com Liseo. Ele se espanta, intrigado. Se fazendo de boba, ela foge das investidas e Liseo no tocante ao assunto casamento. Liseo, lembrando da ignorância dela, desiste novo.

Liseo:
¡Ay, Turín! Vuélvome a Nise.
Más quiero el entendimento
que toda la voluntad.
Señora, pues mi deseo,
que era de daros mi alma,
no pudo tener efeto,
quedad con Dios.

A partir dessa cena, em várias cenas, Finea se mostra inteligente e boba de acordo com a situação. Octavio entra ao lado de Duardo e de Feniso e Laurencio se esconde com Pedro em um vão. O pai pede a Finea que ela não permaneça com homens antes de se casar. E, ela fingindo-se de boba, foge quando se aproxima Liseo mesmo que Octavio diga que, por se tratar de seu noivo, com ele, ela pode ficar. Assim, Finea e Clara vão para o vão onde estão Laurencio e Pedro. Ao entrar com Turín, Liseo pede a mão de Nise e Octavio diz que já a prometeu para Duardo.

Antes de entrar no desvio (Lope não iria atentar contra a honra), Finea e Clara estão preocupadas com suas honras.

Clara:
¡En el desván, una dama
que, creyendo a quien la inquieta,
por una hora de discreta,
pierde mil años de fama!

Octavio, com Miseno, Duardo e Feniso, chega antes das duas entrarem, mas ao falar em “homem”, Finea foge junto de sua criada, fingindo-se de boba. Ao lado de Turín, Liseo entra se despedindo de Nise. Celia aparece carregando mantimentos. É ela quem diz a todos que Finea está no vão. Octavio sai para investigar, preocupado por sua honra.

Saem do vão, empunhando espadas, Octavio e Laurencio, com Finea, Clara e Pedro atrás. Laurencio conta para Octavio que se casou com Finea tendo como testemunhas Duardo e Feniso. Eles concordam. Octavio aceita que Nise e Liseo se casem também. Pedro se casa com Clara, Turín com Célia. E todos ficam felizes.

*

Fonte de pesquisa:
DE SALVO, Mimma. Notas sobre Lope de Vega y Jerónima de Burgos: un estado de la cuestión. In: http://www.midesa.it/peninsulas/De%20Salvo%20Notas%20sobre%20Lope%20de%20Vega.htm Acesso em 14 mar. 2016-03-13

DE SALVO, Mimma. Sobre el reparto de “La dama boba” de Lope de Vega. In: http://www.midesa.it/peninsulas/De%20Salvo%20La%20dama%20boba.htm Acesso em 13 mar. 2016-03-13

GADEA, Alejandro; DE SALVO, Mimma. Jerónima de Burgos y Pedro de Valdés: biografía de un matrimônio de representantes en la España del Seiscientos. In: http://www.midesa.it/peninsulas/Gadea%20De%20Salvo.htm Acesso em 12 de mar. 2016

MENÉNDEZ U PELAYO, Marcelino. Estudio sobre el teatro de Lope de Vega. Santander: Aldus, 1949.

ZAMORA VICENTE, Alonso. Para el entendimento de “La dama boba”. In: http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/para-el-entendimiento-de-la-dama-boba-0/html/ff6de1aa-82b1-11df-acc7-002185ce6064_4.html Acesso em 13 mar. 2016

quarta-feira, 2 de março de 2016

Peça de Lope de Vega: “Adonis y Venus”

“Adonis y Venus”


Texto completo:
http://artelope.uv.es/biblioteca/textosAL/AL0474_AdonisYVenus.php


Venus and Adonis (Charles-Joseph Natoire -1740)

Personagens (11 atores e 5 atrizes + figurantes):
Menandro e seu amigo Timbreo
Camila e sua amiga Albania
Frondoso, o gracioso
Apolo, o deus
A deusa Venus e o seu filho Cupido
Adonis
Atalanta e seu amado Hipómenes
Tebandro, amigo de Hipómenes
Narciso, Jacinto e Ganimedes, amigos de Cupido
Fúria Tesifonte, uma eumênide do castigo
Outras ninfas

Destino e Liberdade

“Adonis y Venus” é a primeira comédia mitológica de Lope de Vega (1562-1636) e foi escrita entre 1597 e 1603, tendo sido publicada pela primeira vez em 1621, embora já tenha aparecido na lista “El peregrino en su pátria” (1604). A peça não foi escrita para ser encenada nos corrales, mas nos salões dos palácios, pois, nos últimos anos do longo reinado de Felipe II, os teatros estavam fechados na corte. Para a publicação, o autor dedicou a obra a D. Rodrigo de Silva, sobrinho do Duque de Pastrana, o Sr. D. Ruy III Gómez de Silva y Mendonza de la Cerda. Ele cita a apresentação da comédia “El prêmio de la Hermosura”, que aconteceu em 3 de novembro de 1614, no palácio de Lerma, da qual tomaram parte como atores a família real, incluindo o futuro rei Felipe IV.

Escrita sobre a narrativa do Livro 10 de “Metamorfoses”, de Ovídio (43 a. C. – 18 d. C.), a história promove um debate sobre destino e liberdade: o quão livres para escolher – e responsáveis por seus atos – são os homens (ou deuses personificados) ou o quanto devemos nos subjugar às decisões divinas ou aos instintos naturais. Vale lembrar, a título de curiosidade, que, no fim do século XVI (25/04/1598), em Madrid, Lope de Vega havia se casado em segundas núpcias com a rica Juana de Guardo, mantendo seu romance com a atriz Micaela de Luján em Toledo.

Chamada de tragédia na dedicatória e de tragicomédia no fala final, há três narrativas paralelas em “Adonis y Venus”. Na primeira delas, em separado, os pastores Timbreo e Menandro e as pastoras Camila e Albania estão indo consultar o deus Apolo acerca do sucesso de seus empreendimentos amorosos. Há também a trágica história da ninfa Atalanta e de seu casamento com Hipomenes e, por fim, o embate entre Venus, seu filho Cupido, seu amante Adonis e o próprio deus Apolo. No meio disso tudo, a desventura de Frondoso, o personagem gracioso.

O diálogo de abertura do primeiro ato acontece no caminho do altar do deus Apolo. Na conversa entre Timbreo e Menandro, fica-se sabendo que os dois estão apaixonados por Camila, embora o primeiro pense que é à Albania que o amigo se refere. Entra depois a ninfa Atalanta que também está a caminho do altar de Apolo. Ela também consultará o deus sobre seu destino em relação ao amor. Na sequência, apaixonadas por Adonis, em direção ao mesmo lugar e com as mesmas intenções, Camila e Albania se encontram com Timbreo e com Menandro.

CAMILA
Timbreo,
Albania, con él está.

ALBANIA
¿Qué querrán saber de Apolo?

CAMILA
Lo que nosotras también.

Por fim, também em busca do templo, aparece Frondoso com um pássaro vivo na mão. Diferente dos outros personagens, ele não quer saber sobre seu destino amoroso, mas intenta desmascarar o deus Apolo com uma trapaça. Ele pretende mostrar a ave para Apolo e perguntar-lhe se está viva. Se ele disser que sim, Frondoso a matará, provando ao deus que ele estava errado. Se ele disser que não, mostrará o pássaro vivo. Antes, ele espera que observar as conversas entre Apolo e os pastores.

O primeiro a consultar o deus é Timbreo.

TIMBREO
Dime, sagrado Apolo,
divino autor del día:
¿ama la prenda mía,
o a mí me quiere solo?

APOLO
Lo que tu prenda quiere,
ausente vive, y por su ausencia muere.

Com isso, Timbreo descobre que Camila não o ama. E sai. Depois, entra Menandro, que tendo escutado a conversa entre o amigo e o deus, percebe que também não é o amado de quem ama. A pergunta de Menandro ao deus é mais obscura e a resposta recebida não menos. Apolo afirma ao pastor que o amor alcança tudo. À Camila, Apolo diz que sua espera é em vão. E à Albania, que como sua amiga também ama Adonis, o deus aconselha esquecer. Irritada, ela dá uma resposta ríspida antes de sair do templo.

ALBANIA
¿Tú eres Apolo santo?
No en vano Dafnes te aborrece tanto.

Na mitologia, Apolo mandou a ninfa Dafne em árvore por não amá-lo. Contemporânea de “Adonis y Venus”, há o texto “La fabula de Dafne”, cuja data exata e autor não são conhecidos.

Frondoso, ao final, se aproxima de Apolo. Para ele, o deus não foi benevolente com os pastores porque esses não lhe trouxeram nenhum sacrifício. Ao fim da cena, Frondoso, cujas traquinagem é percebida por Apolo, reconhece a sabedoria do deus e a ele pede em vão por clemência. Apolo avisa que ele, aos poucos, ganhará nova aparência como castigo pelo que fez.

Na terceira parte do primeiro ato, Atalanta está diante de Apolo.

ATALANTA
Pues he quedado sola con Apolo,
quiero saber qué dice a mi deseo;
que en él espero mi remedio sólo.
Dime, supremo autor de cuanto veo,
filósofo divino, sol hermoso,
Délfico, Delio, Cintio y Didimeo,
¿será mi casamiento venturoso?

APOLO
Tarde, Atalanta, y con peligro.

No texto de Ovídio, Apolo é taxativo em dizer que Atalanta há de se perder se se casar. Na versão lopesca, o deus é menos claro. De qualquer modo, lá como aqui, a ninfa decide não se casar e viver nas montanhas.

Na sequência, a deusa Venus (chamada de Afrodite na mitologia grega) está junto ao seu filho Cupido (na Grécia, Eros). Os dois estão brincando e a mãe pede que ele tenha cuidado com suas flechas, sugerindo que ele vá matar mariposas. Irritado, o menino não gosta do que ouve:

CUPIDO
Admira
que mandes ejecutar
flechas de amor, armas de ira,
en aves simples, señora;
porque yo a las bravas tiro,
donde la fiereza mora.

E sai querendo mostrar à mãe o real poder de suas armas. Entra, então, Camila que, não reconhecendo a deusa Venus, chora com ela sua desilusão. A pastora narra a história do nascimento de Adonis, seu amado, que Venus, na verdade, conhece bem. No passado, a deusa fez com que a jovem Mirra se apaixonasse pelo próprio pai, o Rei Ciniras (neto de Pigmalião o com a Estátua). Por causa desse sentimento, a princesa resolveu tirar a própria vida. A história mudou quando uma babá contou ao rei que havia uma jovem apaixonada por ele, mas cuja identidade não poderia ser descoberta. Sem saber de quem se tratava, o Rei dividiu a cama com sua filha durante doze noite. Dessa relação, nasceu Adonis. Mirra foi transformada em árvore cujo perfume (suas lágrimas) se tornou célebre.

Ao fim da narrativa de Camila, Adonis entra com Cupido em seu encalço. Para vingar-se da mãe, ele atira nela uma flecha, fazendo com que Venus se apaixone por Adonis. E sai. Sentindo os efeitos do encanto, a deusa pede que Camila se afaste, prometendo encontrá-la em seguida. Sozinhos, Venus e Adonis falam sobre o amor.

VENUS
Desde agora
sabrás qué es amor, sabrás
querer bien a quien te adora.

ADONIS
¿Qué es amor?

VENUS
¿Amor?... Deseo.

ADONIS
¿De qué?

VENUS
De lo que es hermoso.

ADONIS
Luego ¿querré lo que veo?

VENUS
Si te agrada.

ADONIS
Eso es forzoso.

O diálogo deixa claro que os dois sabem que o amor entre uma deusa e um humano não se dá da mesma forma que entre iguais. Adonis sabe que Venus é casada com Vulcano e que teve Cupido com Marte e também que ela é amada por Apolo. No texto, porém, não fica claro que ele saiba que o destino de sua mãe foi causado por um encanto da deusa. Com medo de almejar mais do que deve, Adonis cita Faetón, filho morto de Apolo, que caiu em desgraça por ambição. O primeiro ato termina com Venus apaixonada por Adonis e ele disposto a correspondê-la.

O segundo ato começa com um diálogo entre o galã Hipómenes e seu amigo Tebandro sobre uma caçada. Eles avistam os pastores Timbreo e Menandro e esses comentam com ele sobre a ninfa Atalanta que eles acabaram de conhecer. Contam também que, querendo ver-se livre de pretendentes, ela aposta com eles corridas, prometendo-se entregar-se a quem vencê-la. Tão veloz que ela é, no entanto, ninguém consegue fazê-lo de modo que ela continua livre do destino triste que a espera se ela se casar. Sem tê-la jamais visto, Hipómenes se pergunta sobre quem haverá de ser louco a querer casar-se com a dita, mas ele acaba por se interessar pelo desafio e se apaixona por ela quando a vê entrando ao lado de várias outras ninfas cantando sobre ela uma canção.

De longe, Atalanta vê Hipómenes e também se apaixona por ele, mas, no primeiro diálogo entre eles, ela diz ter medo de fazê-lo mal dado o destino que espera por ela.

ATALANTA [Aparte.]
Mira que la muerte esperas.

HIPÓMENES
Yo he de morir.

ATALANTA
¡Qué dolor!
¡Qué mal tu edad consideras!

HIPÓMENES
Acaba ya.

ATALANTA
Yo no quiero.
¡Jueces!...

HIPÓMENES
¿O es ley, o no?

MENANDRO
Ley es.

HIPÓMENES
Pues si es ley, ¿qué espero?
Vencida se confesó.

ATALANTA [Aparte.]
Hoy le doy la muerte, hoy muero.

Antes que Atalanta e as ninfas se vão, Hipómenes promete vencê-la na corrida e ganhar-lhe o coração. E afirma que o fará com a ajuda da deusa Venus. Quando ele está sozinho, o cenário muda e vê-se a deusa entrar e oferecer sua ajuda a Hipómenes. Ela afirma que Atalanta, de fato, é muito veloz e não pode ser vencida nesse aspecto, mas há algo que é possível fazer. Venus dá ao herói três pomos de ouro e pede a ele que, no meio da corrida, ele os jogue no caminho. A beleza deles chamará a atenção da ninfa que naturalmente ficará mais devagar e perderá assim a peleia.

Na segunda cena do segundo ato, Cupido e seus amigos Jacinto, Ganimedes e Narciso entram brincando. Cupido os adverte de que seus jogos não como os de crianças, mas jogos “de foto” em que se pode se queimar. Aparece também Frondoso, se lamentando por sofrer o castigo de Apolo por sua traquinagem. Ele diz, em um solilóquio, estar mudado, triste, amuado. A cada vez que ele se mira, se vê como um bicho diferente: um elefante, um touro, uma serpente... Ao tentar colher mel, Cupido é picado por uma abelha e chora por sua mãe, que reaparece. Ela ameaça de levá-lo para a escola como castigo, culpando o filho por estar enamorada de Adonis. Eis que o filho lhe responde, queixando-se da culpa que todos julgam que ele tenha sozinho:

Quedo, madre, que yo os digo
que no soy sólo el culpado
de tus locos desatinos.
Todos se quejan de amor,
¡ya he visto versos y libros!
porque todas sus flaquezas
quieren disculpar conmigo.

Por fim, Cupido promete se vingar da mãe que não o livrou da dor da picada da abelha, descontando sua fúria em Adonis.

Volta, então, Frondoso que é reconhecido por Venus, embora ele não a reconheça. Ele narra a corrida em que perdeu Atalanta e o casamento dessa com Hipómenes.

La que, como has oído, fue tan áspera,
a cuantos en el curso ligerísimo
pudo vencer, dio en pena muerte infelice,
corrió esta tarde con el bello Hipómenes;
pero valióse de una industria el príncipe,
que tres manzanas, más que las Hespérides,
que Medea guardó con arte mágica,
le fué arrojando entre las plantas ágiles;
con que, mientras la ninfa iba cogiéndolas,
ganó el laurel tan digno de sus méritos.
Diéronsela sus padres sin escándalo,
Y celebróse allí la boda espléndida,
a que han venido en infinito número
habitadores destos campos fértiles.

Quando vai embora Frondoso, entram Hipómenes e Atalanta que estão recém casados e não veem a deusa que permanece em cena. Despertando a fúria de Venus, o noivo não reconhece a ajuda divina que recebeu.

HIPÓMENES
Aquí hay un templo.

ATALANTA
No ofendas
su divina religión.
Mira que de Venus es.

HIPÓMENES
¿Qué es Venus?

ATALANTA
Venus es diosa,
y reina de amor.

HIPÓMENES
Después
que yo te vi más hermosa,
pongo esa diosa a tus pies.
No hay Venus ya, ni de amor
otra diosa que Atalanta.

Para se vingar, quando eles entram no templo, a deusa os transforma em leões. E assim termina o segundo ato.

O terceiro ato começa com um diálogo entre Cupido e Apolo em que o primeiro pede que o deus o ajude a se vingar de sua mãe, dado o comportamento lascivo dela. Apolo, de início, recrimina o Cupido, mas depois concorda em ajudar-lhe. O tema da peça se expressa claramente na pergunta de Apolo:

Esto vi, mas sospeché
que era sólo amor, Cupido.
Pero si tú la has herido,
culpa de tus flechas fue,
¿cómo a Venus se la pones?

Em outras palavras, se Venus está apaixonada por Adonis porque foi encantada, como pode ela ser culpada por esse sentimento? E com que justiça seria punida? Então, Cupido responde que sua mãe quer castigar-lhe mandando-o para a escola - ele já sabe ler e escrever, compondo versos de amor – onde ele poderá ser chicoteado pelo professor. Nisso, Apolo concorda em matar Adonis.

Sozinho, Apolo pede a ajuda de seu tio Plutão para punir Venus. Aparece Tesifonte, a quem o deus pede que envie um javali para acabar com Adonis. Em troca, ele promete cem libras.

Na cena seguinte, Venus adverte seu amado Adonis para que tenha cuidado ao sair em caçada, dizendo que há leões que podem querer vinga-se dela ferindo-o. Ele, assumindo sua masculinidade, sai apesar de suas súplicas. As últimas palavras de Apolo são os versos que ficarão célebres no monólogo de Segismundo em “A vida é sonho” (1635), de Calderón de la Barca:

ADONIS
Por serlo desde este día,
si por eso lo he de ser,
al sueño y su fantasía
te prometo no creer,
mas a la fe, madre mía.

VENUS
Eso está puesto en razón.
Vete a cazar.

ADONIS
Bien podré,
sin que me cause pasión
con su temor; que bien sé
que los sueños, sueños son.

Na sequência, Apolo perdoa Frondoso, livrando-o da maldição, pedindo a ele um favor: que ele atraia Adonis para onde o javali possa atacá-lo. Apaixonado por Camila, ele aceita contribuir para eliminar o inimigo.

Frondoso encontra Adonis junto à Camila e à Albania. Elas declaram seu amor a ele, mas ele as rejeita, o que as deixa irritadas:

ALBANIA
¿En qué montañas ásperas naciste?

CAMILA
¿Qué tigre te dio leche, qué leona?
¿Qué Cáucaso engendró tu basilisco?
¿En qué desierta, inhabitable zona,
en qué Libia aprendiste
esta crüel dureza?

ALBANIA
¡Oh, más duro que risco
en las ondas del mar inexpugnable!

CAMILA
¡Oh, más fiero que el viento embravecido
en los Euripos donde brama Scila!

Frondoso desafia Adonis, instigando sua bravura. Os dois saem e surgem os dois pastores. Nessa cena, Camila e Albania, desistindo de Adonis, enamorar-se-ão respectivamente por Timbreo e por Menandro. O segundo apaixonar-se-á por Albania e todos ficarão felizes. Importa à narrativa que as decisões pessoais imperarão sobre os destinos, recaindo sobre os homens a responsabilidade por seus atos.

Ouvem-se os gritos de dor de Adonis sendo atacado pelo javali. Entra, então, Frondoso com o corpo morto de Adonis nos braços. Ele se lamenta. Entram Venus e Cupido e todos se lamentam também. A deusa descreve o sangue de seu amado manchando as rosas brancas e tornando-as vermelhas. Ela anuncia sua pretensão de não mais ter com homem algum, tornando-se monja. Assim termina “Adonis y Venus”:

VENUS
Ya para mí murió el mundo,
galas, músicas y trajes.
Todo se acabó en Adonis,
que muerto a mis ojos yace.
Con él se acabó mi vida,
y comienzan mis pesares.

TIMBREO
Y aquí la Tragicomedia
del bello Adonis acabe.

*

Fontes de pesquisa:
ARMAS, Frederick A. de. Adonis y Venus: hacia la tragédia en Tiziano e Lope de Vega. In.: ARMAS et alii. Hacia la tragedia áurea: lecturas para un nuevo milênio. España: Iberoamericana, 2008. p. 97-114.

BERBEL, Juan Antonio Martínez. El mundo mitológico de Lope de Vega: Siete comedias de inspiración ovidiana. 2002.893 f. Tese (Doutorado em Literatura Espanhola) – Departamento de Literatura Española, Universidade de Granada, Espanha. 2002. p. 57-188. Disponível em: http://hdl.handle.net/10481/4414 Acesso em 01/03/2016.

DIPUCCIO, Denise M. Comunicating myths of the golden age. Lewisburg: Bucknell Univ Pr, 1998. p. 58-71.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Por que estudar o Século de Ouro? - Reflexões iniciais I

Querido diário, 

Na semana passada, fiquei sabendo que passei em 1o lugar na seleção para doutorado em Letras – Estudos Literários / Línguas Neolatinas na UFRJ. Nem acreditei quando vi minha colocação, essa em que eu esperava que ser tão inferior. 1o lugar!!!! Então, comecei a refletir sobre a seriedade dessa nova fase acadêmica e cá estou a pensar, a ler, a escrever sobre o tema. Hoje me pego pensando no porquê estudar o século de ouro espanhol. E acho que a primeira e mais importante resposta é que, quanto mais eu descubro sobre aquela época, mas feliz eu fico com a minha em que vivo/vivemos. Era uma sociedade muito codificada, muito enrijecida e que lembra vagamente a nossa em alguns aspectos, mas está felizmente distante. Filho de quem sou, vindo de onde vim, eu jamais teria acesso ao que tive e tenho em todos os aspectos da minha vida. Dada a minha natureza sexual ou aos meus ímpetos vitais que também me caracterizam, devo pensar a mesma coisa.



Assim, descobrir como era a estratificado aquele teatro e aquela sociedade dos séculos XVI e XVII e principalmente sentir como a questão social influenciava tão fortemente a condução da individualidade me fazem ver facilmente a riqueza do momento em que tenho a graça de viver hoje em dia. E ser grato por ele! E eu sei que o nosso mundo só é esse porque, sobre ele, estão as lágrimas e o sangue de diversos antes de nós. E é preciso que tenhamos coragem para também deixarmos nossas decepções e dores embaixo do lugar onde o sucesso das futuras gerações será construído (talvez sem nem a lembrança da nossa existência). Essa coragem precisa ser grande, pois vivemos em um mundo em que os erros são escondidos, as falhas esquecidas e só o prazer da vitória tem qualquer destaque. Que a tenhamos com a força merecida!

A honra que antes colocavam os homens uns contra os outros hoje já pode antes colocar o ser humano contra si próprio. E, se a humanidade que é possível nascer desse embate estiver disposta a primeiro dar ao homem a chance de se perdoar e, depois disso, ainda perdoar o outro para só então ver o alheio como também alguém em seu próprio conflito interno, elegendo, como nós outrora fizermos, as prioridades nessa existência, então ela será o diferencial para um mundo mais fraterno, mais justo e especial.

É preciso, pois, que nos orgulhemos do que estamos fazendo ou ao menos deixarmos acender em nós e em nossos projetos a chama capaz de fazer ver a verdadeira luz por trás e para adiante de nossas interrogações. “Brilhe vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus! (Mt 5,16)

Que eu consiga, entrando nesse universo novo para mim e entre meus pares, ser digno daqueles que torcem por mim e desejam que seus esforços por sobre mim não sejam inúteis.

Há muito o que aprender com o século de ouro!

Avante!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Peça de Lope de Vega: “¡Ay, verdades, que en amor...!”

“¡Ay, verdades, que en amor...!”





Personagens (4 atrizes, 4 atores, mais figurantes):
Celia e sua criada Inés
Juan e seu criado Martín
García e seu amigo Alberto
Clara e sua criada Julia
Liseo, criado de Celia
Laurencio, o escrivão
Pradelio, Leoncio e Leandro, que guerream contra Juan
Fulvio, Dario, Perseo, Albano e Damas, que são passantes saindo do teatro
Músicos, que vão tocar no casamento de Celia e de García

Uma comédia frívola

O texto foi escrito em 1625 e publicado dez anos depois em “Veintiuna parte verdadera de las comedias de Lope de Vega Carpio”. É uma comédia frívola, em três atos em que dois homens, Juan e García, alternadamente ganham e perdem o coração de Celia, a protagonista. Em conflito, está sempre o que se sente e o que se deve ser feito. Quase sempre, o amor fica em segundo plano, mas no final ele vence. Não se pode dizer que há vilões, embora haja mentiras. As intenções, no entanto, desculpam os feitos. Uma encenação pode fortalecer o protagonismo de Juan em relação ao personagem García, mas o texto não descaracteriza o segundo de todo modo. Ao contrário, é graças a ele que o final é feliz. Destaca-se ainda o valor dos criados Inés e Martín, (quase) sempre dispostos a bravamente defender seus amos e estimulá-los a não desistir do amor. 

Toda a peça se passa em Madrid. O primeiro ato abre com um diálogo entre Celia e Juan, ela acompanhada de sua criada Inés e ele de seu criado Martín. Juan Guerra (senhor de Montaña) reclama o coração de Celia, uma dama, mas ela o recusa, chamando-o de leviano. Celia:



Estraños los hombres son,

pues sin ver una mujer,

su casa quieren saber.
¡Qué liviandad! ¡Qué traición!
Aquí no obliga afición,
pues no amáis lo que no veis;
luego de liviano hacéis
esta necia diligencia
¿o por ver mi resistencia
tanta codicia tenéis?

Em seguida, vê-se Don García pedindo a jovem Clara que o ajude na conquista de Celia, a quem ele já enviou umas cartas e seu retrato. É quando o leitor descobre o porquê Celia recusou o amor de Juan. García, dizendo que Celia é “a lua, o mar, a luta (porfia), a mudança e a traição”, pede que Clara procure Celia e confesse-se apaixonada por ele. Vaidoso, com isso, ele espera que Celia fique ainda mais apaixonada. García:

Tú, pues, no como tercera,
que tienes muy poca edad
para vender voluntad,
sino en razón de primera,
has de fingir que, celosa,
a Celia vas a rogar
que no me permita entrar
en su casa, porque es cosa
que suele al mayor desdén
tocar al arma en el alma
y al sueño de mayor calma
despertar a querer bien.
Añadirás a estos celos
las partes que no hay en mí,
con que envidiosa de ti
abrirá puerta a desvelos,
que celos y privación
y el ver que me adoras, Clara,
y que tu talle y tu cara,
calidad y discreción
desprecio por su desdén,
hará por dicha en su fría
condición más batería
que haberla querido bien.

Na cena seguinte, Celia e Inés conversam quando três homens (Leoncio, Padelio e Leandro) entram em uma briga de espadas contra Juan, mas esse se protege na casa de Celia, sem de início reconhecê-la. É Inés quem reconhece Juan e depois é Martín quem reconhece Celia. Enquanto Celia se mostra “tocada” pela bravura de Juan, Martín e Inés também se aproximam: amos com amos, criados com criados. Um outro criado de Celia (Liseo) aparece, dizendo que Clara e sua criada Julia estão à porta.

Clara mente para ela que a inveja porque García, que antes havia se interessado por ela, agora tinha dado à anfitriã seu coração. E, por isso, pede que ela não dê a ele confiança. Clara:

A quien de tal discreción
dotó el cielo, Celia mía,
basta decir que García
me tiene esta obligación;
que entre no será razón
en vuestra casa, y conviene
a vuestro honor, porque tiene
gracias que os han de engañar,
que del mucho confïar
la mucha deshonra viene.

Então, Inés anuncia a chegada de García e Clara e Julia e se escondem. Celia pede que Inés lhe traga as cartas que ele a havia escrito bem como seu retrato e os rasga, enxotando-o. Júlia pergunta a Ines se Martín deu a ela também cartas e retratos e Inés a compara com sua ama (Clara).

Na rua, Juan e Martín descobrem os pedaços das cartas de García e também seu retrato. Entre os passantes que saem do teatro (no texto, um deles cita Amarilis, a atriz María de Córdoba (1597-1678)), reconhecem García e esse lhes narra as desventuras com Celia, dizendo que irá embora para Milão afim de esquecê-la. O primeiro ato termina com Martín dizendo a Juan que Celia deve ter rasgado o retrato de García porque está apaixonada por seu amo. Martin:

¿No miras que esta mudanza
nace de estimarte?

O segundo ato começa com uma conversa entre Clara e Juan. Eles são amigos há anos e ele conta a ela que seu amor por Celia está adormecido, pois se assustou com o que lhe relatou Don García. Martín entra dizendo que Celia está a porta, mas Juan não a recebe. Martín diz que avisará que nem ele, nem seu amo estão em casa. Julia deixa claro a Martín que já sabe da história dele com Inés. Martín:

¿Cómo estamos de amistad?

Júlia:
Darele el revés de Inés.

García revela a seu amigo Alberto que escreverá à Celia como se estivesse em Milão e ele se oferece para entregar a carta, sugerindo ainda que haja uma joia para prometer falsamente à dama. García concorda.

Em sua casa, Celia está magoada com Juan, certa de que mentiram para ela. Ela se recente do modo como tratou Juan anteriormente. Inés sugere que ela finja que Don García lhe escreveu de Milão para ver como Juan reage, pois ele sabe que o adversário tem méritos.

Juan procura Celia, mas os dois estão magoados um com o outro e conversam cheios de reservas. Inés interrompe, dizendo à parte que Celia não precisará fingir carta alguma de García, pois uma verdadeira está nas mãos de alguém do lado de fora. Juan ouve o que se passa e, irritado, diz que a anfitriã deve receber aquele que chega do estrangeiro (cita o Brasil). Alberto entra com a carta de García e pergunta quem é o outro cavaleiro. Celia responde que seu nome é Juan. Alberto diz que uma joia espera por ela em nome de García e Inés se propõe a ir buscá-la. Quando Alberto vai embora, Celia e Juan se ofendem ainda mais, terminando com ela lendo a carta recebida em voz alta. Celia oferece a Juan a joia que ela ganhou, mas ele rejeita o “presente”. Depois que Juan e Martín saem, Celia diz que poderá aceitar o amor de Don García.

Juan e Martín estão conversando sobre o que aconteceu na casa de Celia quando Inés aparece e faz um discurso em defesa de sua ama. Inés:

Si tú no vieres a Celia,
está cierto que no intente
las locuras que hasta aquí,
que es infamia que desdenes
sufra una mujer hermosa
de un hombre, aunque un ángel fuese.
Las humildades que ha hecho
contigo, don Juan, te tienen
tan arrogante. ¡Mal haya
la mujer que os desvanece!
Castigo de su suberbia
fuiste, pero ya no quiere
sufrirte necio y galán,
discreto y impertinente.
Es mi señora muy linda
para que tú la desprecies,
muy rica para buscarte,
muy noble para quererte.
Pienso que no hablo en culto,
y si me entiendes advierte
que no te arrepientas tarde,
que hay muchos que la pretenden.

Na sequência, Alberto e Don García se vangloriam da vitória dos últimos acontecimentos e Inés conta a Celia o que disse a Juan. Celia fica ainda mais irritada com Juan por ele não ter se arrependido depois do que lhe dissera Inés. Juan e Martín entram e novas injúrias são trocadas entre Celia e Juan. Pela janela, um cortejo que Don García preparou para encantar Celia passa, evidenciando glórias falsas. Celia decide que ficará com Don García e o segundo ato termina com Juan dizendo que seus sentidos voltam a se movimentar. Juan:

A voces, Martín, confieso
que es la luz de aquestos ojos,
que es el alma deste cuerpo,
de mis potencias, acción,
y el primero movimiento
de mis sentidos, si ya
puedo decir que los tengo.

O terceiro ato começa com uma visita furiosa de Juan à casa de Celia ainda quando o sol mal nasceu. Ele exige falar com a dona da casa e, quando ela aparece, exige entrar em seu quarto para ver se García não está lá. Celia, de início, nega, dizendo que uma mulher honrada não pode deixar outro homem que não seu marido entrar no seu quarto. García e Alberto surgem à porta. Então, com medo de que eles encontrem Juan em sua casa ainda tão cedo, deixa que ele entre em seu quarto. Juan e Martín ouvem a conversa entre Celia e García, que trocam afetos. Quando García e Alberto vão embora, Juan e Martín saem do quarto de Celia desolados. Celia está furiosa e triste.

García e Alberto comemoram quando chega Inés com uma carta de Celia, dizendo que ela almeja se reencontrar com García. Quando a criada vai embora, os dois continuam festejando.

Triste, Juan se lamenta à janela de Celia e ela, com sua criada, escuta sem deixar-se ver. Juan: 

¡Ay, terribles desengaños,
cómo prometen los días
para breves alegrías
tristezas de muchos años!
¡Ay, dulces horas pasadas
que hacéis la pena mayor!
¡Ay, verdades que en amor
siempre fuistes desdichadas!
¡Ay, hierros de aquellas rejas,
quién os pudiera ablandar!

Clara conta para García e para Alberto que Celia aceita se casar e que sejam feitas as escrituras ainda nessa noite. Na rua, Juan e Martín veem Clara, García e Alberto passarem. Juan e García se miram, competidores. Clara, à parte, conta para Juan que Celia e García se casarão nessa noite. Juan sai e Clara e Martín ficam com pena dele. Celia aparece e deixa claro a Martín que ouviu os lamentos de Juan em sua janela. Celia:

¿Piensas tú que no le oí
decir las noches pasadas
a mis ventanas bañadas
de mi llanto y su dolor:
«¡Ay, verdades que en amor
siempre fuistes desdichadas!»?
Todo lo vi y escuché,
pero ya la suerte mía
me ha entregado a don García.

Quando Martín sai, Celia e Clara conversam e a primeira deixa claro que ainda ama Juan, mas se casará com García. Celia:

Yo me tengo de casar,
porque he venido a creer
que, si le vuelvo a querer,
me ha de volver a olvidar.

Na rua, Juan e Martín veem passar o cortejo de García para a casa de Celia. Quando entra Laurêncio, o escrivão, Juan o manda embora. Quando entram os músicos, Juan os ataca. Na confusão, García, Alberto, Inés e Celia e os convidados saem à porta. Juan pede para falar a sós com os noivos. Juan (à parte) diz a eles:

¿Es propio de la nobleza
si un hombre que se casara
con una dama supiera
que había querido a un hombre
un año con tal fineza
que, siendo los días dél
trecientos sobre setenta
y cinco, tantos papeles
puede mostrar de su letra,
y que con celos el alba
trocaba perlas con ella
porque, llorando las dos,
eran mejores sus perlas,
si se espantaba la noche
de ver el sol a sus puertas,
que el de sus ojos gustaba
de estar mirando por ellas?
y el que viniese a querella

García fica sabendo, pela boca de Celia e de Juan, que eles se amam. Vencido, García desfaz o casamento e se oferece como padrinho do enlace entre Celia e Juan. García:

Caballeros, yo he sabido
en este punto que es deuda
mía, de que nunca tuve
imaginación ni nuevas,
la señora Celia, y quiero,
ya que por serlo no pueda
casarme, que no se emplee
menos tan rara belleza
que yo en el señor don Juan
de la Guerra y de la Vega.
Esto suplico a los dos,
y que yo padrino sea.

E também de Martín e de Inés. Assim, termina a comédia.